Por : Aramis Chain* Li, outro
dia, que Arthur Koestler calculou que no século XVIII a humanidade dispunha de
um grande pensador ou um grande escritor para cada 50 mil habitantes. Hoje, ela
não terá mais de um para cada 200 milhões de viventes.
Contrariando
todas as previsões erguidas no século XIX, a velocidade e amplitude da produção
e distribuição de riquezas, em vez de nos darem asas, fizeram-nos pedestres
morais e intelectuais, soldados de infantaria a rastejar no deserto,
envolvidos, quando muito, em pequenas escaramuças de circunstância.
Entramos
no século XXI angustiados pelo destino sem grandeza que é a marca de nosso
tempo. Nem por isso conseguimos escapar facilmente da servidão ideológica que a
sociedade industrial nos impôs. Sucumbimos às evidências e às tentações do
progresso material e nos recusamos a questionar o empobrecimento da vida
intelectual que patina no lamaçal da bricolagem pós-moderna.
Ninguém,
em sã consciência, põe em dúvida as vantagens que as descobertas científicas
proporcionaram. A medicina avançou em algumas áreas e com ela a expectativa de
vida da maioria dobrou. Agora o homem vive mais e dispõe de mais tempo para o
ócio criativo, mas prefere gastá-lo no consumo conspícuo da cultura de baixa
densidade.
As
comunicações tornaram-se virtualmente instantâneas e compulsórias, além de
universais, o que ampliou o mercado de ilusões e expectativas. O mundo
contemporâneo, com sua classe média emergente, tornou-se ávido pelo besteirol
produzido incessantemente pelos meios de comunicação. Besteirol que constitui
99% do acervo da internet, a fonte mais consultada para esclarecer dúvidas da
manada.
Um
operário qualificado de hoje vive com muito mais conforto e higiene que os
membros da corte de Luís XIV. Que dizer da vida de um camponês da primeira
metade do século passado se comparada com a do homem do campo em nossos dias.
Também
houve avanços na tolerância. Barreiras milenares de censura, restrições morais
e policiais caíram até o limite vizinho da extinção. Preconceitos antigos que
regiam o comportamento das pessoas desapareceram em proveito da liberdade.
Resultado
da farta produção e distribuição de bens materiais, saltamos da pós-barbárie
para a vida moderna. Nem tudo, entretanto, são flores. Mas é preciso perceber
que há um terreno em que as virtudes da moderna tecnologia mostraram-se pouco
eficazes e até contraproducentes. É o da criação intelectual, que perdeu em
quantidade e até em qualidade. Atrofiou-se.
Ora,
pois, a demanda cresceu, a produção encolheu, a solução do século foi
mediocrizar para atender às expectativas da maioria. Basta ver as nossas
universidades. De centros de produção do saber passaram a produtoras em massa
de técnicos de baixa extração.
O que faz
sucesso é a mediania. O que a massa exige não é a grandeza, o gênio criador ou
até a incômoda dimensão heróica de outras épocas. A originalidade não tem
valor, o que vale é a moda. As pessoas se identificam pelas grifes e se dão a
todo tipo de vulgaridade, inclusive na cama.
E chamam isso de felicidade.
E chamam isso de felicidade.
Fonte : Fabio Campana da Revista Ideias
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